Trabalhar em mercadinho é tão ruim assim?
Recentemente a moda entre os zoomers está sendo fazer vídeos no YouTube onde eles contam o quão ruim é trabalhar em mercadinho.
Mas é tão ruim assim mesmo ou são apenas jovens preguiçosos que não querem trabalhar?
Sim, é tão ruim assim mesmo
É o inferno na terra.
Falarei um pouco sobre algumas coisas que faziam a experiência ser tão ruim, mas este post não pretende exaurir o assunto. Vou falar bem por cima, sem aprofundar em nada.
Horário
O primeiro grande problema é o horário. Se você for trabalhar em um mercadinho, esqueça que tem vida. Ponto. Você vai sair de lá às 19h, e eu quero que pense um pouco sobre isso. Veja, de seis para sete são apenas uma hora. Sim, é verdade. Sair 18h ou 19h não é uma diferença muito grande no quesito tempo livre. Porém você precisa analisar o fator psicológico disso. Quando você sai do trabalho às 18h ainda está claro. Ainda é dia. Há pessoas voltando do trabalho, um movimento na rua. Mas quando você sai de lá às 19h é outra história: já é noite, a rua está quieta e um clima de melancolia cobre a cidade. Esta última hora era sempre a pior. A mais longa do dia e a que tinha menos coisas para se fazer. Eu só ficava sentado na porta, olhando a rua, louco pra levantar e ir embora pra casa, mas tinha que esperar o horário. Eu só ficava lá pensando em pular da ponte mais próxima, pensando em como minha vida era ruim. Era muita depressão e melancolia assistir o dia virar noite. Escutar o som das cigarras cantando com o cair do sol. Ver os alunos da tarde indo embora e os alunos da noite chegando. Ver o sol se pôr. Ver as gostosas que nunca vou comer voltando da caminhada. O fim de mais um dia bosta na minha vida merda. A última hora era a facada final da vida, para finalizar mesmo, depois de me espancar o dia inteiro.

Ainda não terminou!
A hora esperada chegava. Eu abaixava aquelas portas de ferro filhas da puta (porta de ferro é coisa de terceiro mundo, ar de pobreza) e dava boa noite para o meu chefe boomer vagabundo. Chegava em casa, tomava banho, jantava e quando finalmente tinha tempo para mim já eram 20h e eu já estava cansado. Eu então ligava o meu computador e ia me distrair na internet mesmo porque não tinha amigos, hobbies e nem buceta pra comer, só ligava o compiuter e gastava meu tempo com qualquer coisa enquanto lutava contra o sono, até ele me vencer pelo cançaço por volta das 22h. Às vezes eu pelo menos batia uma punheta, outras eu só caia cansado e ia dormir sabendo que amanhã tudo de novo. Sabendo que do meu dia, apenas duas horas eram minhas, e eu nem tinha mais energia para aproveitá-las! Sabendo que amanhã seria mais um dia estressante e tudo isso por um salário de bosta que não dava pra porra nenhuma.
Escala e compensação
A famosa escala 6/7. Pelo menos nos sábados era só até 17h. Mas a tarde de sábado era infernal, o pior período da semana. Era uma tarde inteira, infinita, que não acabava nunca. Sábado também era o dia da farra, o dia no qual os descolados iam lá comprar camisinha e cerveja para aproveitar o final de semana enquanto eu era um fodido de merda, lixo, virgem e meu final de semana já estava uma bosta e continuaria sendo uma merda completa como sempre foi e como sempre será - e eu ficava puto com isso porque sou muito invejoso.
Enquanto todos reclamam de trabalhar em mercadinho e ganhar um salário mínimo, meu sonho era ganhar um - e nunca ganhei. Comecei lá ganhando nada mais nada menos que R$600. Na época o salário mínimo era R$1'200, então metade de um salário mínimo. Todo mês iam aumentando um pouco, bem pouco.
Depois de um ano, finalmente eu estava ganhando R$1'000, depois R$1'100, mas então parou de aumentar e ficou nisso. Nessa época o salário mínimo já estava R$1'500 reais. Eu trabalhava das 7:30 até às 19h, com 1:30 de almoço e só ganhava isso. Por aqui, no interior, é assim. Eu me sentia extremamente explorado e ficava frustrado com isso porque sabia que ele poderia pagar mais se quisesse, pois o pilantra vivia como um rei, só viajando, carrão, etc. E eu na merda.
Feriados? Não. Era muito raro, raríssimo, fechar o mercado em um feriado. Benefícios? Não existiam e nem a carteira era assinada - não que eu me importe.
Aqui no interior os empregos são basicamente assim: ganhe ~700 reais para ser escravo de um boomer! E não reclame! Eu poderia fazer um post inteiro falando apenas sobre meu patrão boomer e as raivas que ele me fazia passar. Mas não vale a pena. Também não quero ser ingrato.
Conclusão
Hoje, com mais de um ano NEETando, acredito que ser NEET também é ruim, talvez pior.
Às vezes me arrependo de ter pedido demissão. Era ruim, mas era o que tinha.
Porém, quando lembro como era intolerável, vejo que não teve jeito. Eu estava ficando louco de estresse e doente da cabeça trabalhando lá.
No mais, nem assisti direito os vídeos dos zoomers reclamando dos subempregos, mas acho que eles têm que reclamar mesmo. Nossa geração tem seus problemas, mas é uma geração muito baseada por não aceitarem mais subempregos. Zoomer revolution now!
Saindo da Falha, Monday, 28/04/2025 20:32
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